DIVERSIDADE DA VIDA

 

Universidade Estadual Paulista

U N E S P

 

 

Marcelo Santos da Silva

Silvia Mitiko Nishida


 

 

Alimentação: comportamento e fisiologia

 

Do que somos feitos?

Origem dos seres vivos

Alimentar-se de outro ou produzir o seu próprio alimento?

Relação entre respiração e alimentação

Relação presa-predador

 

 

 

Comportamento alimentar dos animais

 

O zoólogo britânico Mark Ridley descreveu precisamente o que seria o comportamento alimentar dos animais: “ ...encontrar e obter alimento para sí, enquanto não está sendo procurado como alimento por um outro animal”. Afinal, todos os animais são heterotróficos.

 

 

Alimento é qualquer item a partir do qual um animal pode extrair, energia e as moléculas orgânicas necessárias aos processos de crescimento e de manutenção. O intervalo entre as refeições, a sua quantidade, a forma  e a maneira como estas são obtidas varia de uma espécie para a outra. A diversidade em torno da forma de alimentação está relacionado com o hábito alimentar (o que come) e o sistema digestório (como é feita a digestão do alimento).

 

No capitulo "Do que somos feitos?" vimos que os seres vivos são feitos essencialmente das mesmas macromoléculas biológicas (carboidratos, proteínas, nucleotídeos e lipídios). Cada grupo de macromoléculas são feitas de biomoléculas fundamentais, respectivamente, de glicose, aminoácidos, ácidos nucléicos e ácidos graxos. Em outras palavras, todos os seres vivos podem, potencialmente, servir de alimento para os animais que são organismos heterotróficos!

 

O que determina o que e como comem os animais?

 

As plantas fotossintetizantes assimilam a energia radiante do sol e, a partir de moléculas inorgânicas (CO2 e H2O), sintetizam seus próprios nutrientes.  A condição heterotrófica faz com que os animais obtenham as suas fontes de energia e nutrientes a partir das moléculas orgânicas de outros seres vivos. Em outras palavras os animais precisam se alimentar de outros seres. Os tecidos ou fluidos corporais ingeridos são quimicamente digeridos no trato gastrointestinal nas unidades fundamentais (glicose, aminoácidos, ácidos graxos, nucleotídeos, etc.).

 

Podemos identificar três grandes grupos de animais quanto ao hábito alimentar:

herbívoros (comedores de plantas)

carnívoros (comedores de carne)

onívoros (comedores de plantas e carne)

dedritívoros (comedores de matéria orgânica em decomposição).

 

Do ponto de vista da estratégia de obtenção de alimento, os animais herbívoros não precisam correr atrás do alimento pois eles não se movem, ao contrário da grande parte dos carnívoros que precisa localizar, correr, capturar e manipular a presa, antes de começar a comer.  

 

Os comedores de plantas

 

Os comedores de plantas aproveitam-se de, praticamente, todas as partes dos vegetais e vários animais são especialistas em comer apenas as folhas, frutas, flores, tubérculos, seiva vegetal, etc. Os animais que se alimentam de flores e das frutificações estão sujeitos às variações sazonais, espaciais e temporais das fontes de alimento. Os recursos alimentares são tá importantes que são ativamente defendidos contra os concorrentes.

 

A exploração de recursos alimentares num mesmo espaço obriga os animais a se distribuírem espacialmente e temporalmente: se você prestar atenção num arbusto florido observará abelhas e borboletas coletando néctar ou pólen, formigas cortando as folhas e os coleópteros sugando a seiva vegetal, etc. Se comparar a observação em diferentes momentos do dia e da noite, verificará que não são os mesmos usuários.

 

A figura abaixo ilustra várias espécies de herbívoros ruminantes da savana africana comendo folhas em diferentes partes da planta. Os elefantes e as girafas exploram cada um os pontos mais elevados das árvores. Além de diferentes formas para alcançar folhas nas copas, compare as adaptações para a preensão da língua da girafa e da tromba do elefante! Dessa maneira esses herbívoros podem conviver de forma ecologicamente equilibrada.   

 

 

 

 

 

Comedores de carne

 

Já os comedores de carne são dotados de estratégias que exigem habilidades sensoriais para localizar e identificar a presa, assim como uma maquinaria eficaz para um exercício muscular intenso.

 

Na mesma savana africana entre os predadores mais eficazes está o guepardo (ou chita), o felino mais veloz do mundo que chega a alcançar 120Km/h. Ao localizar uma presa, ele atinge essa velocidade em menos de 5 segundos! Nenhum carro tem tal torque! Como todos os vertebrados caçadores possuem olhos frontais que garantem uma visão estereoscópica ou de profundidade, essencial para o cálculo da distância. Furtivamente, camuflada entre a vegetação, a chita aproxima-se lentamente, a favor do sol e contra o vento, em direção à presa escolhida. Quando está a uma distância de 30m arremete-se contra a presa em alta velocidade e manobrabilidade incrível. A presa tenta mudar a trajetória da fuga tentando despistar. Quando se aproxima da presa, derruba-a, calçando-a. A presa então é imobilizada e asfixiada. 

 

Veja um vídeo sobre o comportamento de captura de presa da chita. O vídeo mostra também as hienas roubando a presa recém-capturada.

 

Veja a diversidade de predadores no Animal Planet http://www.discoverychannel.co.uk/animalplanet/video/

 

 

Comportamento dos animais onívoros

 

O que você acharia sobre o hábito alimentar do nosso lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) maior canídeo da América do Sul que habita o Cerrado com os seus quase 1m de altura e 20 a 25 Kg de peso? Seria um dos maiores carnívoros da América do Sul, ao lado da onça-pintada? Grande engano! O lobo-guará antes de mais nada, prefere comer frutas maduras!  Ele um animal tipicamente onívoro, ou seja, um comedor generalista como os seres humanos que come um pouco de tudo. O lobo-guará caça pequenos mamíferos (roedores, tatus), aves e répteis, frutos da lobeira (Solanum lycocarpum) uma solanácea que inclui vegetais conhecidos como o tomate e a berinjela. Além de fonte de alimento para o lobo-guará (50% da dieta) a lobeira é uma planta medicinal que funciona como vermífugo!

 

Veja um vídeo sobre o lobo-guará caçando e o tamanduá bandeira no Youtube.

Clique aqui e veja o lobo-guará carregando um pombo.

Acima, as flores e os frutos verdes da lobeira.

http://www.biologo.com.br/plantas/cerrado/lobeira.html

 

Os comedores de cadáveres  (detritívoros)

 

Finalmente, temos os animais detritívoros que ocupam o último nível da cadeia trófica e que se alimentam de carcaças ou material orgânico em decomposição. Voltando para as savanas africanas, temos  como exemplos os abutres e as hienas que esperam a oportunidade de se alimentar, enquanto a chita termina a sua refeição. Por vezes, a chita que é exímia caçadora não consegue, sozinha, defender-se das hienas, e perde a presa abatida para as oportunistas.

 

Um lembrete:os detritívoros são diferentes dos decompositores pois são microorganismos como fungos e bactérias que decompõem a matéria orgânica (tecidos mortos, penas, folhas, fezes, urina, etc) em compostos simples, como água, gás carbônico e compostos nitrogenados. Esses ocupam o último nível da cadeia trófica e realizam a reciclagem da matéria no Planeta, enquanto os detritívoros apenas se alimentam da matéria orgânica morta ou em decomposição.