O cerrado é milagre
(e também é pedaço do Planeta
que desaparece)
abraço meu irmão pequizeiro.
Ando de mãos dadas
Com minha irmã sucupira.
Meu pai jatobá sorri.
Mãe peroba não diz nada,
Apenas sente.
Minhas amigas abelhas
são filhas das flores.

Agora prepare seu coração:
Correntão vai passar e levar tudo:
Ninho de passarinho rasteiro também.
Depois do correntão
Brotou o que tinha que brotar,
Mas já era tarde.
Faca fina cortou raiz pela raiz.
Aí não brotou mais nada.
Aliás, brotou coisa melhor:
Soja, verdinha, verdinha
Que beleza, diziam.

Olhe bem os cerrados
da próxima vez.
Rastejar por entre cupins
E capins
E sentir o cheiro do anoitecer.

Antes de terminar pergunto:
Quem vai pagar a conta
De tanta destruição?
“tudo bem, daqui a 100 anos
estaremos todos mortos”
disse alguém.
Certo, estaremos todos mortos.
Mas nossos netos não.
O cerrado é milagre,
Minha gente.

Nem tudo
Que é torto
É errado

Vide pernas
Do Garrincha
E as árvores
Do cerrado.

Ao primeiro olhar, nada mais é que solidão,
Terra infértil, seca, perdida no meio do nada.
Ao segundo, no entanto: que terra abençoada!
Quanta riqueza é gerada pelo seu queimado chão!

Amarelo do ipê, do capim dourado,
E do sol a brilhar por toda parte.
E vem da cigana o tom avermelhado
Que colore as araras com tamanha arte.

Desse sagrado encontro da natureza
Surge o alaranjado do entardecer;
Deixa para traz mais um dia dessa beleza
Reafirmando a maravilha de viver.

Somente com um olhar mais atento, mais profundo
Percebe-se a magia de todas essas cores
O cerrado, com o fogo, supera suas dores
Renasce, outra vez, para a sobrevivência desse nosso mundo.