Agora prepare seu coração:
Correntão vai passar e levar tudo:
Ninho de passarinho rasteiro também.
Depois do correntão
Brotou o que tinha que brotar,
Mas já era tarde.
Faca fina cortou raiz pela raiz.
Aí não brotou mais nada.
Aliás, brotou coisa melhor:
Soja, verdinha, verdinha
Que beleza, diziam.
Olhe bem os cerrados
da próxima vez.
Rastejar por entre cupins
E capins
E sentir o cheiro do anoitecer.
Antes de terminar pergunto:
Quem vai pagar a conta
De tanta destruição?
“tudo bem, daqui a 100 anos
estaremos todos mortos”
disse alguém.
Certo, estaremos todos mortos.
Mas nossos netos não.
O cerrado é milagre,
Minha gente.
Vide pernas
Do Garrincha
E as árvores
Do cerrado.
Ao primeiro olhar, nada
mais é que solidão,
Terra infértil, seca, perdida no meio do nada.
Ao segundo, no entanto: que terra abençoada!
Quanta riqueza é gerada pelo seu queimado chão!
Amarelo do ipê,
do capim dourado,
E do sol a brilhar por toda parte.
E vem da cigana o tom avermelhado
Que colore as araras com tamanha arte.
Desse sagrado encontro
da natureza
Surge o alaranjado do entardecer;
Deixa para traz mais um dia dessa beleza
Reafirmando a maravilha de viver.
Somente com um olhar mais
atento, mais profundo
Percebe-se a magia de todas essas cores
O cerrado, com o fogo, supera suas dores
Renasce, outra vez, para a sobrevivência desse nosso mundo.