Pequena história sobre ORIGAMI

 

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Um mágico transforma folhas de papel em pássaros” , 1819, xilogravura de Katsushika Hokusai

Enio Yoshinori Hayasaka

Silvia Mitiko Nishida

 

Pequena História sobre Origami

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Origami e suas variações

Origem do papel

 

ORIGAMI é uma palavra japonesa composta do verbo dobrar (折り=ori) e do substantivo papel (=kami). Significa literalmente, "dobrar papel". Os registros sobre a sua origem não são claros, mas a idéia de que teria surgido na China junto com a invenção do papel é descartada, pois as evidências sugerem que lá a sua função foi para escrever (Hatori em K’s Origami ). Para se fazer o ORIGAMI, tradicionalmente, começa-se com um papel cortado em forma de um quadrado perfeito. A inspiração dos origamistas (as pessoas que se dedicam à arte do Origami) está, principalmente, nos elementos da Natureza e nos objetos do dia-a-dia. Para o origamista, o ato de dobrar o papel representa a transformação da vida e ele tem a consciência de que esse pedaço, um dia, foi a semente de uma planta que germinou, cresceu e se transformou numa árvore. E que depois, o homem transformou a planta em folhas de papel, cortando-as em quadrados, dobrando-as em várias formas geométricas representando animais, plantas ou outros objetos. Onde os outros viam apenas uma folha quadrada, o origamista pode ver a origem de todas as formas se transbordando.  Tradicionalmente, nada é cortado, colado ou desenhado. Para o mestre origamista, Akira Yoshisawa, o origami é um diálogo entre o artista e o papel (Prieto, 2008).  

 

No Japão, o papel foi introduzido pelos monges budistas coreanos, em torno de ano de 610 e os japoneses desenvolveram a sua própria tecnologia usando fibras vegetais extraídas de plantas nativas: o kozo para papel resistente, o gampi para os nobres e mitsumata, para os mais delicados. O papel tipicamente japonês ficou conhecido como washi e sobre ele podia-se escrever ou usá-lo para várias finalidades, inclusive para o origami.

 

     

Gampi (Wikstroemia sikokiana)       Mitsumata (Edgeworthia chrysantha)   Kozo (Broussonetia kazinoki)

     Fonte: http://www.virtualginza.com/washiplant.htm

     Saiba mais: http://www.comofazerpapel.com.br/papeljapao.html

O registro mais antigo sobre dobradura papel está num poema de Ihara Saikaku datado de 1680, quando a palavra “orisue” (forma arcaica) referente ao origami foi utilizada. A prática da dobradura era restrita às cerimônias religiosas e festivas. Como exemplo de origami cerimonial temos o casal de borboletas (ocho e mecho) que enfeitam a garrafa de saquê (vinho de arroz) nos casamentos. Tem ainda o noshi cuja dobradura é colocada nos envelopes cerimoniais ou em presentes de grande valor. No livro de Ise Sadatake, “Tsutsumi-no Ki" (1764) os origamis cerimoniais foram criados no Período Muromachi (1336 a 1573).

No Periodo Edo (1603 a 1867), o papel tornou-se mais abundante, os origamis tradicionais que conhecemos hoje se tornaram populares. Foram publicadas duas obras contendo as orientações para a execução de origamis: “Hidem Sembazuru Orikata por Akisato Rito (1797) e “Kayaragusa” por Adachi Kazuyuki (1845). Essa última obra ficou conhecida como “Kan no Mado”.  O grou-japonês ou tsuru, uma ave considerada tradicionalmente sagrada, tornou-se o símbolo do origami. Ninguém sabe quem é o autor da sua criação. O grou tem uma vida longa e por isso foi associado à prosperidade, saúde e felicidade. Nas festividades o grou está presente  nos papeis de presente ou na forma de dobraduras. Veja o passo-a-passo para dobrar o tsuru e conheça uma história real e muito comovente sobre uma garota corajosa chamada Sadako Sasaki.

Grou-japonês  http://earthtrendshop.com/images/ainu/ainu_japanese_cranes_hokkaido.jpg

Pintura de grou  http://tokaido.files.wordpress.com/2008/02/r4s5b2-0003898_01.jpg  

Origami de grou http://www.kamiarte.com.br/simbologia_grou.htm

 

                  Pajarita espanhola

http://scoutsdeandalucia.org/publicaciones/brico/manualidades/papiroflexia.htm

Os mouros (que já conheciam a produção de papel) eram exímios dobradores de papel e influenciaram fortemente a cultura espanhola. Eles faziam apenas figuras geométricas, pois a religião muçulmana não permitia que os animais fossem representados e essas dobraduras fascinaram o filósofo Miguel de Unamuno, reitor da Universidade de Salamanca. Durante a inauguração da Torre Eiffel (1889), conheceu as dobraduras japonesas e passou a promover a "papiroflexia” palavra espanhola para a arte de dobrar papel. Na Espanha, por coincidência ou não, uma dobradura de ave muito popular, a “pajarita” é sinônimo de papiroflexia. Entretanto, Hatori (blogue K’s Origami) acredita que as regras básicas da dobradura japonesa e moura são muito distintas e, podem de ter surgido de forma independente nas duas culturas. Veja como dobrar a "pajarita" e compare. No Brasil o origami foi introduzido pelos imigrantes japoneses e na Argentina, pelos colonizadores espanhóis.

                      Akira Yoshisawa                      "Elefante" dobrado pelo mestre

Foto de Akira Yoshisawa: http://www.ericjoisel.com/home.html

Foto do elefante: http://www.peacetree.info/project/akira/pic15.jpg

 

Até 1950-60, a técnica do origami era imutável e os modelos foram reproduzidos de uma geração para outra, anonimamente. Uchiyama Koko foi o primeiro a patentear as suas criações. É fato que a evolução ou a transformação da cultura faz parte da essência natural da condição humana. As inquietações criativas e inovadoras do mestre de origami, Akira Yoshisawa eram incessantes: ele padronizou regras para representação gráfica das dobras do origami, sistematizou um conjunto de dobras que servem de base para vários origamis e quebrou paradigmas tradicionais introduzindo a técnica do wet folding, ou seja, dobrar com o papel molhado. Saiba sobre wet folding explicado de forma didática por Norberto Kawakami no seu Blog Origami. Transformando papel em Arte”. Veja os símbolos universais padronizados pelo mestre japonês clicando nos dois links: 1; 2; aprecie uma amostra com centenas de aves e animais criados com realismo que impressionaram o mundo, clicando aqui. Os trabalhos de Akira Yoshisawa foram reconhecidos internacionalmente e houve uma grande explosão do origami entre 1950-60, especialmente nos EUA. Lá, em 1958, Lilian Oppenheimer, uma grande entusiasta do origami fundou o The Origami Center New York e podemos dizer que duas vertentes de origamistas surgiram: a da escola oriental mais voltada para o exercício artístico e a escola ocidental, praticada por matemáticos, arquitetos e engenheiros que usam o origami como uma ferramenta de trabalho acadêmico. Esses origamistas perseguem a exatidão anatômica da forma e das proporções recorrendo a processos matemáticos, técnicas geométricas de desenho e recursos computacionais. Mesmo no Japão, há vários pesquisadores de origamis (os chamados detetives de origami ou “origami tanteidan” ) que também buscam inovações e recriações. Eric Joisel é um desses artistas cuja habilidade impressiona pelo realismo das suas criações (clique aqui). Os origamistas geométricos descobriram que no ato de dobrar o papel além da atividade artesanal, criativa e artistica está ocorrendo um fenômeno de precisão matemática. Você sabia que quando fazemos origamis, obedecemos princípios matemáticos formados por 7 axiomas? Em 1893, Tandalam Sundara Row publicou na Índia, o livro “Geometric Exercises in paper folding” (Exercícios geométricos na dobradura de papel). Entre os teóricos mais populares e atuais está o engenheiro Robert J. Lang que criou um programa de computação (TreeMaker) para projetar a construção de origamis com precisão matemática Visite o site dele (em inglês).

 

Links para visitar e saber mais

"Breve Histórico do Origami no Brasil' por Mari Kanage no site Atelie KamiArte

 Origami Techniques no site Wikipedia (em inglês)

 
 
 
 
 
 
 
 

 

 

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