O tímido lobo-guará
Selvagem, porém tímido


Dono do título de maior canídeo da
América do Sul, o lobo-guará, cuja distribuição geográfica abrange o Centro-oeste do Brasil, Paraguai, Leste da Bolívia e Norte da Argentina, é um morador cativo do cerrado brasileiro. Sua pelagem castanha-avermelhada, em contraposição a suas pernas, focinho e dorso negros, confere-lhe um bonito aspecto – não é à toa que é considerado o nosso mais belo canídeo.

Apesar de selvagem, é um animal tímido e arredio. Jamais se aproxima do homem – apenas rosna quando se sente ameaçado. Todavia, é bastante comum aparecer nas sedes das fazendas, atraídos pelo cheiro da comida e por animais domésticos, como galinhas. Pode ser considerado onívoro, pois sua alimentação inclui cerca de 68 espécies de frutos e animais, entre eles pequenos mamíferos e aves, assim como frutas silvestres e vegetais, atuando, dessa forma, como um importante dispersor de sementes.

Na sua dieta é indispensável a fruta-de-lobo (Solanum lycocarpum), que serve de vermífugo natural contra a parasitose renal provocada pelo nematóide Dioctophyna renale. Infelizmente, assim como o próprio lobo, essa árvore típica do cerrado brasileiro também está desaparecendo.

Suas longas pernas, proporcionalmente maiores em relação aos outros canídeos, facilitam sua locomoção e a visualização sobre a vegetação alta. Interessante notar que suas pernas traseiras são ligeiramente maiores que as dianteiras, o que lhe confere rapidez na subida e dificuldades e lentidão nas descidas. É exatamente por isso que os caçadores procuram acuar o lobo-guará para regiões de terreno desiguais.

Nos crepúsculos e noites do Cerrado é que nosso canídeo entra em ação. Raramente são vistos aos pares, pois se reúnem em casais apenas na época de acasalamento. A reprodução se dá uma vez por ano, a fêmea tem gestação de 63 a 65 dias e gera de 2 a 5 filhotes.

A destruição do seu ambiente natural aliada à caça predatória está fazendo com que esses belos lobos sumam gradativamente de nossas paisagens. Só para se ter uma idéia, estudos da IUCN relatam que em 1976 a área territorial de um casal de lobos era em média de 300km2. Atualmente, essa área fica entre os 20 e 30 km2! Isso os torna mais próximos do homem, agravando o problema da caça predatória. Além do mais, para cada animal capturado, outros cinco podem ser sacrificados - na captura, invariavelmente um dos membros do casal é morto na tentativa de defender sua prole, e os filhotes ficam desprotegidos e órfãos.

Diante de tanta destruição, resta saber até quando vamos permitir que nossos elegantes lobos (e não somente eles) deixem de fazer parte das belíssimas paisagens do cerrado.