O vôo das aves é bem mais complexo do que
dos aviões mas ambos se baseiam no mesmo princípio da Física, a Lei de Bernoulli. Essa
lei diz que existe uma relação inseparável entre a pressão e a velocidade
das correntes fluidas (seja de líquido ou de gás).
Suponha que as correntes de vento estão passando
sobre a superfície da asa de um avião, aqui vista de perfil. Como a asa
é abaulada, a superfície de cima é maior do que a de baixo, certo? Então a
corrente de vento desliza-se mais rapidamente na parte de cima do que na
parte de baixo. Segundo a Lei de Bernoulli, a região de menor velocidade
da corrente, ou seja, embaixo da asa a pressão (P2) será maior do
que sobre (P1) a asa. Como resultado, sob as asas haverá uma força
resultante de
ascensão de baixo para cima superando o próprio peso do avião. É dessa maneira que o avião fica sustentado no ar
mas, para que a força de ascensão seja criada, é necessário
correntes de ar na superfície do avião. É por isso que para decolar, o avião
corre na pista impulsionado pelos motores. A Lei de Bernoulli entra em
ação e o avião sobe. Veja aqui uma
ótima animação sobre o fenômeno.
Aviões e aves voadoras possuem asas abauladas e levemente
inclinadas. O grau dessa inclinação (chamada de ângulo de ataque)
determina maior sustentação e maior força de resistência do ar,
diminuindo a velocidade do avião ou da ave. Para que o avião não entre
em estol (vire), o ângulo de ataque da asa precisa ficar numa posição que não
crie uma resistência demasiada do ar. A forma de evitar isso, são as aletas
que
criam fendas e aumentam a velocidade do ar sobre a asa garantindo maior
poder de ascensão.
Mas e a ave, como é que ela decola?
No caso, os motores propulsores são os
músculos do peito responsáveis pelo batimento das asas. A ave cria a
força de ascensão durante o ciclo de bater as asas, mais
especificamente, quando as asas abaixam. Quanto mais bate as asas, mais
sobe. Há aves que, ao invés de bater as asas, decolam de pontos altos: lançam-se de penhascos,
galhos de árvores, etc. e batem as apenas algumas vezes, só para manter
a altura.
O batimento das asas gasta
muita energia e seria vantajoso se existissem mecanismos para a sua economia. Uma
estratégia que ajuda muito é ter um corpo aerodinâmico, ou seja, uma superfície
corporal que cause o menor atrito possível com ar. A outra estratégia seria
manter-se no ar sem bater muito as asas e ou aproveitar as correntes de
ar. Cada ave possui estilos de vôos conforme os seus hábitos.
Vejamos os principais.
1) Vôo batido: é
típico das aves que tem asas bem curtas em relação ao corpo como os
beija-flores, cujas as asa nunca param de bater.
2) Vôo batido alternado
com o planeio: As aves que pesam mais de 140g, alternam o batimento
para ganhar altitude com o planeio. Há dois estilos: bater as asas e
depois fechá-las bem junto ao corpo assumindo uma forma bastante
aerodinâmica (como o pica-pau-do-campo) ou mantê-las abertas (como o
pombão).
3) Vôo planado. As
aves que precisam ganhar grandes altitudes gastariam muita energia se
tiverem que bater as asas constantemente, especialmente, se são pesadas
como o urubú-de-cabeça-preta ou a fragata. Há dois tipos de vôo planado:
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a) vôo planado térmico praticado
por aves grandes e que vivem nos
continentes. Elas usam as correntes térmicas ascendentes para subirem,
deixando as asas abertas e fazendo manobras para não saírem da bolha de ar
quente. Você já deve ter visto bandos de
urubus-de-cabeça-preta voando em círculos e ganhando altitude.
Repare como as suas asas
são grandes e bem largas. |
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b) vôo planado
dinâmico: praticado pelas aves marinhas (como a gaivota) que tem asas
bem longas e
estreitas. No mar as correntes de vento
(setas) são desviadas pelas ondas, para cima. Então elas aproveitam essas
correntes para subirem e descerem.
Ficar parado no ar pode ser conseguido de
duas maneiras diferentes: batendo muito rapidamente as asas como os
beija-flores ou
aproveitar a corrente de vento ficando de asas abertas como o kestrel.
O
beija-flor
paira no ar para lamber o néctar das flores e o
kestrel fica à procura de uma presa que anda no solo. |