Botucatu, ou Ybytu-Katu, significa bons ares em Tupi. Esta cidade está localizada no sudoeste do Estado de São Paulo, a cerca de 200Km da capital. A maior parte da sua população (aproximadamente de 130 mil habitantes) reside no topo da Cuesta de Botucatu.

Estudos Parasitológicos

No município de Botucatu, a partir de 1970, foram realizados alguns levantamentos parasitológicos em bairros, escolas e creches.   

O primeiro deles, que temos conhecimento, aconteceu na Vila Cecap . Os pesquisadores encontraram parasitas intestinais em 41,6% das pessoas que passaram pelos exames parasitológicos. Dois anos depois, foi publicado um estudo realizado na Vila dos Lavradores, 2º Distrito de Botucatu que revelou, nas pessoas investigadas, 53,7% de enteroparasitoses . Nesses dois estudos os levantamentos incluíram uma amostra da população que continha pessoas de diferentes idades. Os parasitas intestinais de maior ocorrência, nas duas ocasiões, foram o Ascaris lumbricoides , Trichuris trichiura e Giardia lamblia .

      Entre crianças e adolescentes de 0 a 15 anos, do Bairro Tanquinho, os pesquisadores encontraram 37,8% parasitados com Ascaris lmbricoides , enquanto 37,9% deles apresentaram ancilostomatídeos ( Ancilostoma duodenale e Necator americanus ) em seus exames. Outros dados importantes desse estudo mostraram que somente 24,3% das crianças e adolescentes moravam em casas onde havia rede de esgoto e 66,5% contavam com água encanada. Isso significa que as pessoas, provavelmente se infectaram por meio da água, a qual não era tratada e nem fervida antes de ser ingerida. A falta de esgoto pode ter contribuído também para que as pessoas, principalmente as crianças contaminadas, contaminassem o ambiente ao defecar no solo, ou ao usar sanitários improvisados sobre riachos, que nas cidades já não são comuns, mas que persistem em alguns locais de áreas rurais. Lembremos ainda, que terrenos úmidos são locais apropriados, por exemplo, para o desenvolvimento de ancilostomatídeos , cujas larvas infectantes podem penetrar pela pele. Como o resultado deste estudo foi relativo a crianças, que nas cidades do interior costumam andar descalças, e rolar pelo chão de terra durante as brincadeiras, o hábito de andar calçado seria uma medida adequada em busca de redução no número de pessoas infectadas por essa parasitose .  

      Na década de 1990 levantamentos em creches municipais de Botucatu, com crianças de 0 a 6 anos de idade, encontraram o protozoário Giardia lamblia em 63,3%, não notando diferença entre creches de zona central, periférica e rural da cidade. Como este protozoário tem como principal meio de veiculação a água, é provável que as crianças estivessem utilizando-se de água que não havia sido devidamente tratada. Há ainda a possibilidade de alimentos contaminados não terem sido bem higienizados e ingeridos crus. Hortas regadas com água de rios que tenham recebido fezes de pessoas contaminadas, poderão colocar em risco de contaminação todos aqueles que se alimentarem de hortaliças cruas que não forem muito bem lavadas em água corrente tratada. É o que mostra estudo feito na cidade de Ribeirão Preto, estado de São Paulo.

     Outro trabalho, constatou que 37,8% dos moradores de todas as faixas etárias da Fazenda Experimental do Lageado , da Unesp de Botucatu, que foram   investigados, apresentaram pelo menos um enteroparasita . Giardia lamblia , com 15,6%, foi a espécie mais presente naquela população. O autor relata que esse índice foi pequeno em relação aos achados anteriores, revelando que melhorias nas condições de saneamento básico dos moradores da Fazenda devem ter sido primordiais na diminuição desta infecção.

      No ano de 2000, foi feito estudo em duas creches municipais, uma localizada em zona rural e outra em zona periférica. Foi encontrado Giardia lamblia em 49,2% das crianças da creche da zona rural e 38,1% nas crianças da creche da zona periférica. Esses resultados podem estar relacionados ao fato de as crianças ficarem confinadas, em boa parte do dia, em ambientes fechados e partilhando as mesmas instalações sanitárias. Em uma situação como essa é saudável que além de se verificar as condições dos sanitários e forma de uso, desenvolva-se um trabalho educativo sobre hábitos de higiene, para que as crianças, após serem medicadas, não se reinfestem . Além disso, pode-se levar em conta a hipótese de contaminação fecal da água que abastece o estabelecimento e a região, assim como o consumo de hortaliças e frutas cruas, com a presença de cistos desse protozoário. Essas hipóteses levantadas revelaram-se bastante procedentes diante do fato de a maioria das crianças, de ambas as creches, consumirem alimentos crus, e 67,2% delas consumir água de poço, bastante comum naquela região, ou da torneira, sem filtração e/ou fervura.

      Ainda que esses tenham sido os únicos estudos a apresentar dados quantitativos sobre parasitoses na população botucatuense, os relatos em postos de saúde apontam para muitos casos positivos de doenças parasitárias como aquelas causadas por ascaríase e giardíase . Essa falta de quantificação se deve ao fato de doenças como essas, que matam milhares de pessoas em todo o mundo, não serem de notificação compulsória, ou seja, os casos não são registrados com obrigatoriedade nos órgãos competentes, que, neste caso, é a própria Secretaria de Saúde.

           Já a cólera, dengue, esquistossomose e leptospirose, que são de notificação obrigatória, não têm se constituído em problema de saúde pública relevante no município de Botucatu. A maioria dos casos registrados é de imigrantes que contraíram tais doenças em suas cidades de origem, ou de pessoas que viajaram e voltaram contaminadas.

      Botucatu é um município que hoje dispõem de água tratada a abastecer 99% das residências, e rede de esgoto que atinge 97% dos lares. Sendo assim, as parasitoses mais comuns entre adultos e, principalmente, entre as crianças, que são veiculadas pela água, poderiam ser controladas com um trabalho educativo bem elaborado e conduzido. Paralelamente, aqueles locais da cidade que ainda carecem de água tratada, precisam ser urgentemente integrados à rede de abastecimento.

 

 

A água é um dos recursos naturais mais abundantes da região. O Aqüífero Guarani, maior reservatório de água doce em extensão contínua do mundo, estende – se da Cuesta até a Patagônia.Com isso, a cidade possui inúmeras quedas d'àgua que são importantes atrações turísticas e centros de lazer da população botucatuense.

Botucatu sedia o maior campus da Unesp, voltado, principalmente,   para as áreas de ciências biológicas.

foto: L.M.Paleari
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